Coletivos organizam evento gratuito no Parque da Juventude para relembrar 32 anos do Massacre do Carandiru
02/10/2024
Ações começam a partir das 10h na Zona Norte de São Paulo e terá tour guiado no local que abrigava presídio em que 111 detentos morreram em 2 de outubro de 1992. Pavilhões do presídio do Carandiru foram demolidos em 2002 e Parque da Juventude foi montado no lugar
Arquivo/Estadão Conteúdo
Nesta quarta-feira (2), o núcleo Memórias Carandiru realiza evento gratuito no Parque da Juventude, na Zona Norte de São Paulo, para relembrar os 32 anos do Massacre do Carandiru, a maior chacina do sistema prisional brasileiro.
A ação começa a partir das 10h, com uma simulação de luta de boxe e conversa com o ativista Maurício Monteiro, educador e sobrevivente do massacre. Para participar, não é necessário fazer inscrição prévia.
Maurício Monteiro, sobrevivente do massacre do Carandiru
Celso Tavares/g1
Monteiro tinha 19 anos quando foi preso nos anos 1990. Ele praticava boxe na Casa de Detenção de São Paulo e, quando deixou a prisão, em 2011, aprofundou a prática do esporte. Depois, decidiu aprender e ensinar a luta para jovens no projeto social Instituto Resgata Cidadão (Irec).
No evento, o ativista irá falar da importância do esporte como prática de reinserção de egressos do sistema carcerário.
Haverá também um sarau com exposição de objetos artesanais produzidos por ex-detentos do Carandiru.
Para finalizar o dia, está marcada a estreia do áudio tour cênico “Tudo Gente”. Organizada pelo grupo CiA dXs TeRrOrIsTaS, a performance propõe uma experiência imersiva e sensorial no local que abrigou o Carandiru. O público vai receber fones de ouvido e será guiado pela voz de Maurício Monteiro durante toda a encenação. Ele vai relatar e transportar o público para a rotina de como funcionava a detenção.
Áudio tour cênico no Parque da Juventude
Divulgação
Além disso, as atrizes Eluah Lima e Carla Mendes levarão narrativas e experiências de travestis e pessoas trans dentro das prisões. No Carandiru, por exemplo, o quarto andar do Pavilhão 5 era conhecido por “Rua das Flores” e era onde ficavam as pessoas LGBTQIAPN+ do presídio.
“Tudo Gente” fica em cartaz até 9 de novembro no Parque da Juventude, e as sessões acontecem todas as quartas e os sábados, às 14h e às 16h. Para participar do áudio tour é necessário adquirir ingresso no site.
Áudio tour cênico no Parque da Juventude faz parte do dia de eventos dedicados aos 32 anos do Massacre do Carandiru
Guira Bara e Nelle Riso
São Paulo, dia 2 de outubro de 1992
Foto de arquivo de 2 de outubro de 1992 mostra carros da ROTA entrando no Carandiru para conter rebelião
Mônica Zarattini/Estadão Conteúdo/Arquivo
Os assassinatos em série daquela tarde de sexta-feira são a maior tragédia carcerária da história nacional.
Tudo começou no pavilhão 9, bloco destinado aos presos novatos, réus primários, entre 18 e 25 anos, e que aguardavam julgamento.
Segundo relatos, o estopim de rebelião foi uma confusão entre dois presos na área externa do Pavilhão 9. Porém, os autos do processo, de acordo com o Ministério Público, não explicam o motivo dessa briga.
A discussão foi tão intensa que virou uma briga generalizada. Os rebelados não atenderam as ordens dos agentes penitenciários. Esses, por sua vez, acionaram a PM para apaziguar a situação.
PMs entrando no Carandiru em 1992
TV Globo/Arquivo
A ordem da invasão foi dada pelo coronel Ubiratan Guimarães. Estavam na ação policiais militares da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), do Choque, do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) e Comando de Operações Especiais (COE). Resultado: rebelião controlada depois de 20 minutos, com 111 detentos mortos.
Na época, o Carandiru tinha mais de 7 mil presos, apesar de a capacidade ser para 3.300 detentos.
Em 2002, os pavilhões do presídio foram implodidos, e o Parque da Juventude foi construído no local.
No total, 74 agentes foram condenados pelos assassinatos de 77 dos 111 detentos mortos (ficou constatado que 34 dos presos foram assassinados pelos próprios companheiros) em 2 de outubro de 1992. Porém, esses PMs nunca foram presos, e o caso na Justiça segue sem conclusão.
No fim de 2022, o então presidente Jair Bolsonaro publicou um decreto de Bolsonaro perdoando da pena agentes públicos de segurança que tenham sido condenados por crime praticado há 30 anos, o que atingia os PMs que atuaram no massacre do Carandiru.
A publicação foi contestada pela Procuradoria-Geral da República, que alegou existir uma violação da Constituição, que não permite indultos para crimes hediondos. No entanto, os atos dos policiais militares do Carandiru não eram considerados hediondos na época em que ocorreram.
Em agosto deste ano, o Órgão Especial do Tribunal da Justiça de São Paulo (TJ-SP) decidiu que o indulto de Jair Bolsonaro (PL) é constitucional.
Último indulto de Natal de Bolsonaro pode livrar da condenação PMs envolvidos no massacre do Carandiru