MP investiga fraudes no bilhete único que já geraram prejuízo de R$ 360 milhões ao Metrô e CPTM; veja como funciona o esquema

  • 11/11/2024
(Foto: Reprodução)
SP2 e g1 flagraram em várias estações falsários vendendo créditos do bilhete único por valores mais baratos que o preço da passagem nas bilheterias. Investigação do MP foi determinada pela Justiça contra a SPTrans em 2019, a pedido das próprias empresas prejudicadas. Cinco anos depois, fraudes continuam. Usuário do bilhete único na cidade de São Paulo. Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) instaurou um inquérito para investigar um esquema de fraudes no Bilhete Único que tem gerado prejuízo anual de quase R$ 360 milhões ao Metrô e à CPTM, desde 2018. A investigação é contra a SPTrans e foi aberta por determinação da Justiça, em processo movido pelos próprios parceiros, que identificaram esses prejuízos. O SP2, da TV Globo, flagrou o esquema denunciado pelas empresas de venda de créditos mais baratos em várias estações, que tem gerado esses prejuízos milionários (veja abaixo). Na ação movida pelas duas empresas na 11ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, em 2019, Metrô e CPTM alegam haver suspeitas de falhas no sistema de bilhetagem da Prefeitura de São Paulo, onde estariam sendo cometidas essas fraudes milionárias. Na ação, a CPTM disse que em 2018 identificou perdas de R$ 192 milhões decorrentes do sistema do Bilhete Único gerido pela SPTrans e “uma das principais suspeitas foi de que esta redução de receita nas vendas de créditos tenha sido ocasionada por fraudes no sistema de bilhetagem eletrônica”. No Metrô, uma auditoria interna feita pela empresa Ernst & Young apontou que a redução nas receitas foi de R$ 160 milhões. “Uma das suspeitas é a de que fraudes no sistema de bilhetagem eletrônica, de responsabilidade da SPTrans São Paulo Transporte, da prefeitura da capital, tenham motivado o prejuízo”, diz um documento do MP-SP que a reportagem teve acesso, assinado pelo promotor José Carlos Blat. Venda de créditos mais baratos Estelionatários vendem créditos no Bilhete Único em estações da CPMT e ViaMobilidade em São Paulo. Reprodução/TV Globo Cinco anos depois do início do processo na Justiça, as equipes do SP2 e do g1 flagraram em várias estações da CPTM, do Metrô e da ViaMobilidade falsários vendendo créditos do bilhete único por valores mais baratos que o cobrado nas bilheterias. Em imagens e áudios gravados nos últimos dois meses, os falsários prometem recarregar o bilhete dos passageiros com valores até quatro vezes maior que o pago na fraude. "É 400 por 100. A gente cobra R$ 100 e carrega R$ 400 no seu bilhete", disse um dos fraudadores à reportagem do g1. Em outra estação de trem de Carapicuíba, um outro estelionatário cobra um preço diferente: "Hoje a gente tá na promoção. R$ 100 nóis tá pondo R$ 250. Paga R$ 150, a gente coloca R$ 400", revelou. Fraudador oferece serviço irregular de crédito no Bilhete Único em São Paulo. Reprodução/TV Globo Os anúncios nas estações são feitos nos horários de pico mesmo, sem nenhuma preocupação com a fiscalização. E olha que fiscalização não falta. Em um dos vídeos feitos pelo SP2, ao mesmo tempo que dá pra ver dois seguranças da estação é possível ver os fraudadores anunciando o serviço mais barato. “Aqui ó. Passagem mais barato, R$ 4. Aceito crédito, débito e pix”, diz o rapaz. A recarga ilegal é feita fora das estações, segundo anunciam os estelionatários. “Ele vai abastecer lá e vai te trazer de volta. aí ele vai te mostrar aqui o quanto que tem e você paga. Total foi de R$ 399 e 1 centavo, tá, meu anjo? Tem um real na casa, na próxima”, afirma o fraudador para uma cliente. Estelionatários vendem créditos no Bilhete Único em estações da CPMT e ViaMobilidade em São Paulo. Reprodução/TV Globo Sem saber que era filmada, a funcionária da bilheteria confirma que o esquema funciona: "Esses bilhetes que eles passam ali [na catraca], passa normal?" "Passa". "Não dá problema?" "Não". Linha 8-Diamante Parte dos flagrantes do SP2 foram gravados nos últimos dois meses, nas estações Domingos de Moraes, Carapicuíba e Lapa - todas da Linha 8-Diamante, da ViaMobilidade. A empresa também sabe do crime. Em agosto deste ano, o Ministério Público ouviu o líder da segurança de uma das estações da Linha 8. Ele contou no depoimento que "sabe que é venda de bilhete falso, mas que ele e outros seguranças já sofreram ameaças desse pessoal". Disse também que "não possui agentes suficientes pra lidar com a situação" e que "pra manter a integridade física deles, não fazem nada", já que os suspeitos "falam que são do PCC e que querem ver quem vai tirar eles de lá". Documento do MP mostra depoimento do chefe de segurança da ViaMobilidade sobre as fraudes no Bilhete Único. Reprodução/TV Globo Ameaças aos empregados A Central de Atendimento da ViaMobilidade também recebeu neste ano uma ligação de um homem que se identificou como da "turma das passagens", conforme mostra o diálogo abaixo: "ViaMobilidade, boa tarde". "A gente só tá dando um salve. Se a Estação Presidente Altino colocar a mão nos nossos bilhetes, papo reto, vários seguranças de vocês "vai" deitar, entendeu?" "Como, senhor?" "Se os nossos meninos não podem trabalhar, tudo bem. É só dar um salve pros nossos meninos, os nossos meninos vão se retirar das estações. Mas não tente colocar a mão nos nossos bilhetes. Se colocar a mão nos nossos bilhetes, todos que tiverem naquele plantão vão pagar, entendeu? A gente não está prejudicando ninguém, a gente está fortalecendo a população e é assim que nós ‘vai’ seguir. Então é isso." "Tenha uma ótima tarde, uma ótima semana também". Criminoso faz ameaças a atendentes da ViaMobilidade sobre fraudes no Bilhete Único em São Paulo. Reprodução/TV Globo Como a fraude foi descoberta Segundo o processo que corre na 11ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, a CPTM resolveu investigar as fraudes quando descobriu uma perda de recursos pelo Bilhete Único, mesmo com o aumento de 4,3% no número de passageiros transportados naquele ano de 2018, em relação ao ano de 2017, entre todas as entradas no sistema. Segundo a ação, foram transportados 863,3 milhões de passageiros em 2018. A média de passageiros por dia útil aumentou 4,6%, fechando o ano de 2018 com 2,9 milhões de registros. De acordo com Relatório Anual de Administração da CPTM, os sistemas de bilhetagem eletrônica, das quais o Bilhete Único era a maior parte dos recursos que entraram no caixa da empresa, representaram 73,5% do total da receita bruta de prestação de serviços de transportes da companhia. "Para a CPTM parece pouco ilógico aumentar o número de passageiros e haver perdas pelo Bilhete Único", afirma o pedido de aberta de inquérito do MP-SP. Já o Metrô de São Paulo contratou a empresa Ernst & Young em 16 de abril de 2019 para fazer uma auditoria e verificar porque houve redução de receita em vendas de créditos do Bilhete Único, mesmo com aumento similar do número de passageiros. “A auditoria se debruçou sobre as movimentações dos últimos cinco anos. Somente em 2018, esta redução de receita foi de R$ 160 milhões. Uma das suspeitas era de que fraudes no sistema de bilhetagem eletrônica, de responsabilidade da SPTrans São Paulo Transporte, da prefeitura da capital, tenham motivado o prejuízo”, disse o promotor João Carlos Blat. O que espanta nesse processo todo é que as fraudes continuam nas estações, quase cinco anos depois da Justiça determinar a abertura de inquérito de ofício do MP-SP. Em agosto deste ano, o promotor Blat pediu em ofício que a SPTrans esclarece o que tem sido feito para impedir as fraudes, que conforme a reportagem apurou, ainda ocorrem em plena luz do dia nas estações da capital paulista e da Grande São Paulo. O que diz a SPTrans "A SPTrans informa que colabora com os trabalhos do Ministério Público, é das maiores interessadas na elucidação dos casos registrados e trabalha para a erradicação das fraudes no Bilhete Único. A SPTrans tem como política permanente o combate à fraude no Bilhete Único e a modernização dos sistemas e ferramentas de segurança na bilhetagem. A empresa realiza campanhas para orientação dos passageiros, que devem comprar créditos apenas nos meios oficiais de venda, disponíveis em https://www.sptrans.com.br/compra-de-creditos-e-servicos/. Inclusive, a edição atual do Jornal do Ônibus traz campanha sobre a compra segura de créditos, como mostra a imagem. A gestora do transporte público municipal também adota ações de inteligência para verificar a legitimidade de créditos nos cartões do Bilhete Único. Há, ainda, medidas tecnológicas aplicadas nos validadores dos ônibus. Por questões de segurança, para que os criminosos não possam buscar maneiras de burlar, as ações antifraude não podem ser detalhadas. Equipes de fiscalização também atuam diretamente nos terminais de ônibus municipais, com o objetivo de coibir a prática criminosa. A fiscalização nas estações do sistema sobre trilhos é de responsabilidade de seus gestores."

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2024/11/11/mp-investiga-fraudes-no-bilhete-unico-que-ja-geraram-prejuizo-de-r-360-milhoes-ao-metro-e-cptm-veja-como-funciona-o-esquema.ghtml


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